domingo, dezembro 03, 2006

Para ti princesinha que estas cada vez mais traquinas, uma histórinha só tua. Tu és um raio de sol na vida de todos nós. Trazes contigo alegria, muita energia, muita criatividade. Para ti meu amor a quem amo muito quero deixar o meu beijo de muito carinho.

Era uma vez três meninos pequeninos que eram muito curiosos. Andavam a brincar num jardim colorido com flores de muitas cores, debruado de arbustos verdes, onde os passarinhos trinavam alegremente. A Andreia observava as formigas no seu vai e vem, carregadas de grandes sementes, maiores que elas próprias. A Sofia descobriu um caracol sobre uma folha verde, e chamou pela Andreia: "-Andreia, Andreia, olha o caracol" E voltava a insistir: -"Andreia, Andreia, olha o caracol".
O João, que já tinha aprendido a gatinhar, andava para cá e para lá, a descobrir coisas novas que não se encontravam no seu berço. Era tudo tão grande e tão bonito !!! As grandes árvores que se estendiam no infinito, os pequenos troços de relva, a brisa no rosto...
Enquanto andava nas suas deambulações, encontrou... três pequenas arcas de madeira castanha. Quando a Andreia chegou perto, exclamou, muito entusiasmada: - "Olha, arcas do tesouro!!! O que será que tem lá dentro? Vamos, vamos procurar as chaves para as abrir!!!".
E começaram todos à procura das chavezinhas das arcas. Procuraram por entre os arbustos, por debaixo das pedras, atrás das árvores, por toda a parte, mas nada encontraram. Mas onde é que poderiam estar escondidas as chaves? Continuaram à procura, à procura, à procura... . Resolveram sentar-se, por fim, num tronco de árvore, caído, pois estavam os três muito cansados.
Mal se sentaram, o tronco resvalou e, cabuuum, taralhum, catrapum, pum, pum... deram todos um grande trambolhão! Que grande confusão! Levantaram-se e sacudiram as roupas sujas de terra e de flores. A Andreia foi ajudar o João a sacudir os seus calçõezinhos, enquanto a Sofia repetia: "Caiu, caiu, caiu...", e ria-se. Qual não foi o seu espanto quando viram uma pequena chavezinha azul mesmo no sítio onde tinha estado o tronco. Era ali que uma das chaves tinha estado escondida o tempo todo!!! Uma vez que só havia aquela chave, o melhor era experimentá-la... A Andreia pegou na chave e enfiou-a na fechadura da arca maior. Não servia! Depois foi a vez da Sofia: enfiou a chave azul na fechadura da arca e rodou... Ohhhh! Também não servia... Depois foi o João que pegou na chave e enfiou-a na fechadura da arca mais pequenina, ajudado pela Andreia, claro!!! A Sofia preparou-se para abrir a tampa da arca. Rodaram a chave com muito cuidado. A fechadura deu um estalido suave... e a tampa abriu-se. Espreitaram todos para dentro da arca com muito cuidado...
Dentro da arca estava ... o mar !!! Sim, o mar, com as suas ondas, a sua areia, os peixinhos e as conchinhas. Até tinha um barquinho!!! Dentro do barquinho estava... adivinhem só !!!... Uma chavezinha amarela. A Sofia exclamou: - Olha, olha, Andreia, uma chave... - E ria-se, feliz. E foram as duas abrir a arca do meio. O João ficou a olhar para o mar que estava dentro da arca, fascinado com o vaivém das ondas. De dentro da arca saíam gaivotas, esvoaçando em redor dele.
A Sofia exclamou: " Sou eu que abro!!! " - " 'Tá bem, 'tá bem, abre lá tu..." - disse a Andreia - "O que será que está lá dentro?" A Sofia meteu a chave na fechadura e tentou rodar, mas sozinha não conseguia. - "Ajuda, Andreia, ajuda..." - pediu. A Andreia ajudou-a a rodar a chave. A tampa da arca levantou-se quase como que por magia... As irmãs espreitaram muito devagarinho... Que bonito!!! Conseguia ver-se um campo muito verdinho, salpicado de florinhas coloridas pequeninas. Um riacho muito azulinho saltitava por entre seixinhos redondinhos, e coelhos espreitavam entre os arbustos. No fundo da arca vislumbravam-se umas montanhas com os cumes cobertos por um manto branco de neve. A Sofia chamou: - "Anda, João, anda ver, tão bonito!!! Entretanto, de dentro da arca saiu um passarinho, esvoaçando. - "Olha! " - chama a Sofia - "O piu-piu tem uma chave!" - O passarinho, que trazia uma chave vermelha no bico, esvoaçou até ao ombro da Andreia. Depois, deixou cair a chave no seu colo, levantando voo novamente. - "Olha, a chave da arca maior!!! Vamos, vamos abri-la já..."
Dirigiram-se à terceira arca e tentaram abri-la com a chave vermelha, mas a fechadura não dava de si... Tentaram de todas as maneiras possíveis, mas nada... Sentaram-se, por fim, em redor da grande arca. - "E se espreitássemos pela fechadura? " - perguntou a Andreia. Espreitaram, então, um de cada vez pela fechadura, mas não se via nada, porque lá dentro estava muito escuro. Puseram-se então à escuta, com os ouvidos encostados à arca. Ouviam-se lá muito longe crianças a chorar. De vez em quando ouvia-se: "PUM, PUM, PUM". E as crianças choravam sempre. Os irmão, cá fora, ficaram muito tristes pelas crianças que estavam lá dentro a chorar. "Vamos, vamos tentar abrir a arca novamente, para tirar os meninos daqui! " Tentaram novamente rodar a chave, com toda a força que podiam, mas esta não se movia nem um milímetro. Estavam nesta azáfama quando ouviram o vento a sussurrar:
- "Têm que chamar os meninos que estão lá dentro e pedir que os ajudem a rodar a chave........".
Os três manos começaram então a chamar: "- Venham, venham, ajudem-nos a abrir esta arca, para que possam sair daí."! E alguns meninos treparam até ao buraco da fechadura. Perguntaram lá de dentro:
" - Como? Como é que vamos abrir a arca?"
- "Nós temos aqui uma chave, só não temos força para rodar. Vamos virar a chave todos juntos?" - perguntou a Andreia.
- "Sim, todos ao mesmo tempo!" - responderam os meninos. " 1 - 2 - 3 !!! "
E a chave rodou com estrondo. A arca abriu-se, e os raios de luz invadiram a escuridão. Os meninos espreitaram, esfregando os olhos cheios de lágrimas. Não conseguiam ver, estava muito sol lá fora.
-"Por que é que estão a chorar? O que é que está lá dentro? " - perguntaram os irmãos.
- " Estamos a chorar porque temos fome e medo do escuro. Aqui há guerra e está tudo destruído e poluído. Os adultos deixaram a Natureza morrer e agora já não temos sol para iluminar, nem animais e plantas nem nada para comer.
Os três irmãos disseram: " Nós temos aqui duas outras arcas: uma tem o mar, a outra tem os campos e os montes... . Se os adultos do vosso país pudessem lembrar-se outra vez como é bonito o mundo e a natureza, certamente acabariam com a guerra."
Os meninos de dentro da arca pediram: " - Tragam para aqui as outras arcas. Assim, podemos vê-las também !!! " E os três meninos começaram a puxar as arcas. Puxaram, puxaram, empurraram e puxaram, até ficarem as três muito encostadinhas. Os meninos que estavam dentro da arca bateram palmas de alegria.
"- Vamos, vamos chamar os nossos pais, para que eles possam ver o mar e os campos. Como é tudo tão bonito !!!"
E começaram todos a visitar as arcas, até que já não se ouvia ninguém a chorar. É que no mar e no rio havia muitos peixes para comer, nas árvores muitos frutos para saborear e na terra muitos legumes para cozinhar. Os adultos recomeçaram a construir as suas casas e as crianças a brincar umas com as outras, esquecidas do passado. Tomara que não se esqueçam completamente da guerra e dos seus malefícios, para que não voltem a cometer os mesmos erros...
Com estes pensamentos, os três irmãos foram para casa, porque a mãe os estava a chamar. Quando voltaram ao jardim, um pouco mais tarde, as arcas já não estavam lá e nunca mais as viram. Também não tinha importância, porque no mundo deles ainda havia mar, terra, rios, montes e montanhas; flores de todas as cores, passarinhos com muitos trinados diferentes e outras coisas tão boas.. E um mundo novo a descobrir todos os dias.

Um conto de Célia Ascenso

Beijos do tio Gonçalo

1 comentário:

Celia A disse...

Gostei de ver este conto aqui, muitos anos depois de o ter escrito.
Agora esses meninos já estão crescidos...
Obrigada
Célia Ascenso